A suspensão das atividades com a presença de público alterou o cenário e o cotidiano dos principais palcos da bola. Arquibancadas e corredores estão vazios há dias, desde que as competições foram suspensas como medida para evitar aglomerações e, assim, conter a expansão do novo coronavírus. Espaços de disputas entre adversários, os estádios brasileiros entenderam que o rival é outro e se tornaram uma poderosa ferramenta social.
Compreender como os estádios mudaram diante da crise sanitária é o quinto capítulo da série especial de reportagens do GLOBO que mostra como o futebol sobrevive em tempos de pandemia da Covid-19.
No Rio, o Maracanã, comandado por Flamengo e Fluminense, o Nilton Santos, sob cuidados do Botafogo, e São Januário, do Vasco, foram oferecidos ao Governo do Estado para se transformarem em hospitais de campanha. Segundo O GLOBO apurou, todos aguardam informações sobre o prazo de utilização, que virá via Secretaria Estadual de Esportes, Lazer e Juventude. No Complexo Maracanã, o Célio de Barros também é observado.
— Hoje, temos muito mais casos do que conseguimos registrar. Sem contar que ainda estamos no começo da pandemia. Os casos devem aumentar muito e os hospitais não estão dando mais conta. Precisamos desafogar a rede e os hospitais de campanha farão esse papel — afirmou a infectologista Elisa Aires.
O governador Wilson Wizel (PSC-RJ) já declarou em coletiva que o Maracanã será um dos principais hospitais de campanha do Rio. Os outros três serão no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio; no antigo aeroclube de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense; e em São Gonçalo. Segundo Witzel, as unidades terão 900 leitos.
Em São Paulo, as tendas erguidas no gramado do Pacaembu estão em ritmo acelerado. A previsão é que o hospital, em fase de montagem, esteja funcionando em abril, com 200 leitos para pacientes de média e baixa complexidade.
O Estádio do Pacaembu, em São Paulo, começou a receber estruturas provisórias para abrigar um hospital de campanha. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O mesmo tem ocorrido em outras partes do Brasil: em Roraima, o estádio Canarinho — erguido como centro de treinamento para a Copa — recebeu estrutura para 120 leitos. A prefeitura de Fortaleza anunciou a construção de um hospital temporário no Presidente Vargas, do Ceará, com 204 leitos. Em Brasília, o governo local estuda usar o Mané Garrincha. Em Belo Horizonte, o Mineirão se colocou à disposição.
Ao redor do mundo, a mesma medida tem sido adotada, como o Santiago Bernabéu, do Real Madrid. No Uruguai, o Centenário foi convertido em albergue para moradores de rua.
Quadros reduzidos
Foto: Reprodução
Durante a crise, Maracanã, Nilton Santos e São Januário estão com número reduzido de funcionários e não escaparam dos problemas financeiros e logísticos.
Assim como todos os pontos turísticos do Rio, o Tour Maracanã foi fechado em 16 de março em virtude do plano de contingência contra a doença. Em março e abril do ano passado, o número de visitantes foi de 10.417 e 8.346, respectivamente. A estimativa é de que o palco da final da Copa-2014 deixe de ter um faturamento bruto em torno de R$ 492 mil (março) e R$ 327 mil (abril) apenas com o cancelamento das visitas.
Cenário parecido com o vivido no Nilton Santos, que também funciona com quadro de empregados reduzido. Além do tour estar suspenso, a loja oficial do Botafogo teve que ser fechada. Funciona apenas a estrutura necessária para segurança, emergências elétricas e hidráulicas.
Em São Januário, somente 10 funcionários se revezam nas áreas de segurança, limpeza, manutenção e secretaria. Um modelo de rodízio é feito pelo Vasco, que afirma que “todos os funcionários que estão no grupo de risco estão em casa”.
Enquanto o martelo não é batido, cuidados com o gramado também são tomados nos estádios. A Greenleaf, empresa que cuida da preservação dos solos dos três locais, segue a rotina de manutenção. No Nilton Santos existe um cuidado para serviços especiais como descompactação, nivelamento com areia e adubação.