04/07/2019 às 17h32min - Atualizada em 04/07/2019 às 17h42min

Lesões ligamentares do joelho no futebol feminino necessitam de atenção

Dr. João Hollanda disserta sobre os fatores relacionados a uma alta incidência de rompimento do Ligamento Cruzado Anterior no futebol feminino, já que estudos comprovaram que existe um risco maior desta grave lesão, em mulheres.

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No futebol um dos maiores medos de um jogador, é o rompimento do Ligamento Cruzado Anterior. No sexo feminino este temor é ainda maior e muito mais preocupante, pois, estudos comprovam que existe um risco de 2 a 8 vezes maior de lesões, do Ligamento Cruzado Anterior, em mulheres quando comparado com os homens. Isso considerando-se a mesma intensidade no esporte e também o mesmo nível técnico.

Estudos tentam justificar esta maior incidência em virtude dos efeitos do "ciclo menstrual", em função de diferenças anatômicas (um quadril mais largo nas mulheres, por exemplo) e diferenças no controle neuromuscular. Todos estes fatores, acredita-se, tem alguma influência na maior incidência de lesões.

A lesão ocorre quando o atleta prende o pé no chão e gira o corpo sobre o joelho. Situações em que o atleta tem o controle do movimento das articulações prejudicado colocam ele em risco para torcer o joelho e romper o ligamento. Fraquezas e desequilíbrios musculares, fadiga e estresse são situações que podem fazer com que a musculatura não responda adequadamente aos comandos. Grande parte das lesões acontecem justamente no final do primeiro ou do segundo tempo das partidas, quando os atletas estão mais cansados.

A incidência de lesões pode ser reduzida significativamente por meio de trabalhos preventivos focados na melhora do controle e da força muscular, como o FIFA 11+, desenvolvido pela FIFA. Os programas que previnem o aparecimento e diminuem a ocorrência e a gravidade das lesões são de extrema importância para fisioterapeutas, treinadores e jogadores.

Considerando-se as diferenças entre o corpo masculino e feminino, incluindo-se mas não limitando-se ao ciclo menstrual, é natural que existam diferenças na incidência e nos tipos de lesões. Colocar toda a culpa no corpo feminino, porém, é injusto e, acima de tudo, faz com que deixemos de nos preocupar com aquilo que acontece fora de campo, na gestão esportiva.

A gestão do futebol masculino e feminino é tão ou mais diferente do que o corpo masculino e feminino, e isso também influi na incidência de lesões. As atletas têm contratos profissionais totalmente desiguais, em comparação com o futebol masculino. O período de atividade da Liga Feminina é mais curto. Muitas passam boa parte do ano sem treinamento, já que são dispensadas de seus clubes ao final da temporada, ficando inativas e retornando apenas na temporada seguinte. Esse problema de inatividade também prejudica a pré-temporada, já que as atletas precisam de um tempo maior para retomar a forma física ideal.

Após o fim da temporada, ao invés de se preocuparem com a recuperação física, as mulheres acabam assinando contratos pontuais com outras ligas e clubes, talvez pelo amor ao futebol, ou como forma de se manterem em atividade, ou em alguns casos (muito comuns aqui no Brasil) apenas pela necessidade de complementar a renda familiar. Este afastamento temporário das atividades e dos treinamentos regulares, prejudica o condicionamento físico e pode acarretar em lesões futuras.

Outro fator de suma importância é que os clubes possuem elencos femininos muito menores que os plantéis masculinos, com poucas atletas para substituição, ao contrário do futebol masculino que conta em média com trinta atletas, tendo ainda a possibilidade de utilizar os atletas das categorias de base. Esse elenco reduzido faz com que as atletas lesionadas (muitas vezes com graves lesões), voltem antes da recuperação completa.

Os recursos nos departamentos médicos dos clubes são muito aquém do esperado, tanto em relação a recursos humanos como em relação a recursos tecnológicos. As condições para realizar um trabalho preventivo com médico, fisioterapeuta, preparador físico, nutricionista e outros profissionais são reduzidas.

Justificar as lesões com base apenas nas diferenças próprias do corpo feminino é ignorar os outros inúmeros fatores que foram citados acima e que poderiam ser resolvidos apenas com uma boa gestão esportiva.

Dr João Hollanda é médico ortopedista especialista em cirurgia do joelho e traumatologia esportiva. Trabalha atualmente como médico da seleção Brasileira de Futebol Feminino. Maiores informações em www.ortopedistadojoelho.com.br http://www.ortopedistadojoelho.com.br




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