Ela sempre foi dada às letras, desde que era apenas a Pingo. Apelido, aliás, que ela detestava. Mas, sim, ela era a nossa pingo-de-gente. Cresceu em meio a uma realidade turbulenta, às vezes confusa, outras vezes complicada, porém repleta também de momentos felizes que ficaram guardadinhos em sua memória.
Um dia ela disse que ia embora, que precisava vivenciar um sonho antigo de morar fora do país. E foi. Ela, sua imensa coragem (não se engane com a estatura, ela é um ser humano gigante), seu inglês básico (totalmente aprendido naqueles cursos que chegavam pelos Correios com fitas cassetes e livros), alguns trocados e, claro, suas memórias de Manaus.
Lembro-me perfeitamente quando alguém disse: ela é amazonense, mas tem alma francesa. Conheceu vários países, mas sua memória manaura nunca a deixara. E era pra lá que ela voltava quando sentia saudade. E então nasceu o Blog Crônicas de Uma Menina Feliz, momento em que a intimidade com as palavras se juntou com uma memória detalhista da sua infância.
E que desenvoltura a pequena tinha com as letras. Escrevia com facilidade, caminhava calmamente com suas botinhas de frio pela língua portuguesa, como se nunca tivesse saído do Brasil.
Ela sempre nos dizia: “Um dia vou pôr tudo isso num livro”. Eu mesma nunca duvidei. Então, ela o fez. E fez sozinha. Escreveu, revisou, editou. Tudo isso em meio a todos os afazeres de uma legítima e assumida dona-de-casa. Então, nós, seus leitores assíduos do outrora blog fomos presenteados com um livro escrito com o coração de uma pequena menina apaixonada pela sua infância.
À ela, toda a minha admiração e respeito, não só pela mulher que se tornou, mas por ter optado por escrever sobre o amor que une nossa família desde o tempo em que ela era só a nossa pequena pingo-de-gente.