27/06/2018 às 08h53min - Atualizada em 27/06/2018 às 08h53min

A história de Wallace, fã que comoveu o craque Philippe Coutinho

Essa história tinha tudo para acabar como começou, sem nunca sair da Vila Cruzeiro, se não fosse o fotógrafo Bruno Itan...

Bruno Itan / Olhar Complexo
Faltavam poucos minutos para o Brasil estrear na Copa do Mundo. Wallace já havia pedido dinheiro à sua mãe para comprar uma camisa oficial da seleção, mas dona Sandra, dona de casa, não tinha um tostão. Os dois foram pedir ajuda à melhor costureira da Vila Cruzeiro, favela do Complexo da Penha, onde nasceram e moram até hoje. Ao ver o olhar triste do menino por não ter uma camisa, tia Neuza, como é conhecida, pegou um tecido amarelo que tinha guardado e correu para a máquina de costura.

A camisa custaria R$ 10 reais, mas acabou saindo fiado. Para o jogo seguinte, contra a Costa Rica, Wallace teve uma ideia: personalizar o uniforme. A mãe disse para ele colocar seu próprio nome; Helen, sua irmã, sugeriu o de Gabriel Jesus; mas ele já tinha outro em mente: Philippe Coutinho. Foi a costureira quem escreveu à mão, com uma caneta verde, o sobrenome do artilheiro do Brasil na Copa, e também o número que ele veste.

Essa história tinha tudo para acabar como começou, sem nunca sair da Vila Cruzeiro, se não fosse o fotógrafo Bruno Itan, morador do Complexo do Alemão, que está percorrendo a cidade durante os jogos do Brasil para registrar como as favelas torcem. Após fotografar o menino ao lado da prima Letícia, da mesma idade, entusiasmou-se com a ideia de fazer a foto chegar ao próprio Coutinho. Uma tarefa difícil, principalmente porque ele não conhecia ninguém ligado ao craque. Decidiu lançar uma campanha nas redes sociais e, para seu espanto, o próprio Coutinho lhe respondeu em menos de quatro horas, dizendo-se “emocionado”. Hoje, Wallace de Oliveira Rocha teve uma surpresa: um vídeo de Coutinho para ele, gravado logo após o último treino da seleção em Moscou.


"Fala aí, meu parceirinho Wallace. Passando aqui para te mandar um abraço e agradecer pela sua torcida, que é muito importante pra gente. Estou louco pra te conhecer. Espero que depois da Copa do Mundo a gente possa se conhecer, valeu, irmãozinho? Um beijo grande, fica com Deus", disse o camisa 11 para o menino.

Wallace tinha acabado de almoçar quando recebeu o vídeo. Parecia não acreditar que um dos melhores jogadores do mundo, seu ídolo desde que jogava no Liverpool, tinha feito aquele vídeo para ele, caçula de cinco filhos, aluno do 5º ano de uma escola pública, craque no campo da Vacaria, localidade da Vila Cruzeiro, onde joga todo sábado em dois horários: das 6h às 9h e das 14h às 16h. Ao ver o vídeo, Wallace não chorou: ficou calado, pensativo, como se tentasse assimilar a mensagem. Ele é tão fã de Coutinho que, embora seja flamenguista - segundo Douglas, de 28, seu irmão mais velho, ele sempre chora quando o time perde -, sonha entrar nas categorias de base do arquirrival Vasco da Gama. Motivo: quer seguir os passos do ídolo.

- Sou atacante, mas sempre volto para ajudar na marcação. Ano passado fui artilheiro do campo onde jogo, cheguei a marcar 11 gols em 12 partidas - conta o menino, tímido como Coutinho. - Meu sonho é ser jogador profissional, mas só depois de terminar a escola. Repeti o quinto ano, mas agora estou levando a sério.

 
Coutinho em treino da seleção Foto: HANNAH MCKAY / REUTERS

A família de Wallace é muito pobre: só o padrasto está empregado. Vivem numa casa de apenas um quarto. Nunca foram ao Cristo, nem ao Pão de Açúcar, mas conhecem o Piscinão de Ramos e as praias de Copacabana e do Arpoador. Wallace diz que gostaria de dar uma casa nova para a família de presente ali mesmo, na Vila Cruzeiro. Eles têm televisão, mas não internet. Wallace usa o wifi da vizinha, a amiga Viviane, para ver os gols de Coutinho no Youtube.

Ele realmente acompanha a carreira do jogador de 26 anos que, antes de brilhar na Europa, foi formado no futsal, nas equipes do Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército e, depois, da Mangueira. Coutinho também teve uma infância humilde: morava no bairro do Rocha com seus pais, os baianos José Carlos e Esmeraldina. Seu prato preferido na infância era macarrão com salsicha, como ele contou ao site do Vasco da Gama pouco antes de ser transferido para a Inter de Milão. Perguntado em que equipe Coutinho jogava antes do Barcelona, ele não titubeia: Liverpool.

- Se ele tivesse continuado no Liverpool, o time não teria perdido a final da Liga dos Campeões para o Real Madrid - comenta, como ar de quem sabe o que fala.

 
A foto que circulou nas redes sociais
Foto: Bruno Itan / Olhar Complexo

Ele também tem opinião sobre Neymar:

- Joga muito, mas como está se recuperando da lesão no pé ainda não consegue driblar o time todo, como sempre faz. Mas o título vai ser nosso - diz, confiante, antes de opinar sobre qual será a final. - Brasil e Inglaterra. Os ingleses estão atropelando geral, mas vamos ganhar de 3 a 0.

Segundo ele, Gabriel Jesus fará um gol. Coutinho, dois.


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