No primeiro dia de julho de 2020 acabou o primeiro semestre do ano mais louco de todos...
Esta frase que foi tão veiculada nas redes sociais lembra que a vida era tão diferente há três meses e pouca gente se dá conta. Todos eram livres para andar, falar, abraçar. Todos podiam trabalhar, comprar, se divertir, passear, viajar. Todos eram livres para viver o normal e, em um piscar de olhos, grande parte disso foi eliminado. De repente, vive-se um novo normal.
Estudiosos afirmam que a rapidez na adaptação é uma das características que difere os seres humanos dos outros animais. Muitas vezes, as pessoas não se dão conta, mas realmente os humanos são os seres mais adaptáveis neste momento. Basta pensar em quanto o antigo normal já era uma vida de constantes mudanças e adaptações: seja ao mudar de emprego, de amor, quando se tem um filho ou quando se modifica o modo de escutar músicas, de assistir TV, de se comunicar... Enfim, ter certeza que algo sempre vai mudar é uma das certezas da vida. Por outro lado, os mais velhos também tiveram que se adaptar a todas essas inovações e mudanças, mas a diferença é a velocidade com que essas inovações passaram a fazer parte da vida cotidiana.
A impressão que dá, ao observar todas as mudanças provocadas pela Covid-19, é que os seres humanos não vão conseguir se adaptar. Mas, é preciso lembrar que o Spotify chegou ao Brasil em 2014, mesmo ano que o Uber iniciou suas atividades por aqui. Parece muito tempo? Passaram-se pouco mais de cinco anos e tem-se a impressão que estas duas tecnologias já são utilizadas há décadas! Ou seja, os seres humanos têm uma capacidade fantástica de se adaptar a uma nova realidade e se esquecer do passado.
Dizem que nada impulsionou mais a transformação digital no mundo que a Covid. Todos foram empurrados a adaptações digitais sem direito a perguntas. Coisas que eram vistas com receio anteriormente, viraram normais: fazer home office, ter atendimento médico e psicológico a distância, assistir aulas on-line, fazer exercícios físicos em casa com auxílio de um personal trainer virtual em vídeos no YouTube, acompanhar lives de meditação, lives de oração, lives de artistas, happy hours virtuais, aniversários virtuais, ir ao cinema e assistir a um filme dentro do carro, comprar tudo pela internet...
Muito do que era adaptação em determinado momento na história da humanidade se tornou parte da vida e isso também vai acontecer na era pós-covid. Sabe-se que junto com uma nova experiência sempre vem aprendizados e decepções. Portanto, é natural que em um novo cenário surjam também novas discussões:
• Disseminação dos dispositivos de reconhecimento de comandos por voz - em um futuro muito próximo, alguns se perguntarão porque existem tantos botões em alguns dispositivos, se todos poderiam funcionar a um comando de voz...
• Contactless - os dispositivos funcionarão sem terem que ser tocados, ou seja, pagar uma compra ou acessar um prédio são atividades que poderão se realizar sem que seja obrigatória a apresentação de um crachá para entrar em um local ou ter um cartão de plástico para efetuar um pagamento.
• Altos níveis de segurança em vídeo conferência - imagine o impacto se uma consulta médica, psicológica ou até mesmo uma confissão para um padre vazar nas redes sociais.
• Autoatendimento - Ainda existe a percepção que ser atendido por um humano era mais rápido e prático. Mas muitos estão descobrindo que robôs podem ser mais rápidos, práticos e principalmente mais disponíveis.
• New E-commerce - muitos produtos poderão ser adquiridos com a mesma experiência que se pede uma refeição por delivery, ou seja: com entrega rápida, personalizada, preço justo, tamanho padrão.
• Officeless - Sim, o home office deu certo para muitas empresas, mas ainda há muito a aprender. É preciso criar limites, melhorar controles e o mais importante: descobrir se há motivo para todos os funcionários irem para o escritório.
• Monetizar o Digital - O brasileiro é um dos povos mais conectados do mundo, mas são os que menos gastam dinheiro em produtos pela internet. Muitos serviços foram jogados para o digital, sem cobrança. O desafio agora será convencer estes clientes a pagar pelo serviço.
• Desdigitalização - Nunca na história viveu-se uma era onde o ser humano foi tão digital. O desafio será alimentar todas as necessidades humanas em uma era pós-covid, sem esquecer da segurança.
Não há dúvidas que será uma nova era e sabe-se que aprender de forma traumática, como está sendo durante este período de isolamento social, não é a melhor. Por outro lado, os seres humanos conseguem lidar com essas situações, com muito aprendizado. Com a era pós-Covid não será diferente. É preciso ter certeza que todos vão sair mais fortes, que vão sobreviver. Afinal, esta é somente mais uma adaptação …
Eduardo Endo - coordenador acadêmico do MBA Tech-Driven Leadeship do Centro Universitário FIAP