Foi aos 70 anos, depois de perder o companheiro de décadas, que a professora de História, aposentada, Leny Ferreira de Menezes, percebeu que precisava encontrar uma maneira de ocupar o tempo. A paixão pelos estudos sempre existiu, por isso decidiu unir a ociosidade com o desejo de cursar uma outra graduação, o Direito.
"Eu estava tão acostumada com o meu ‘velhinho’, porque a gente ficava 24 horas por dia juntos. Quando foi para ficar sozinha, eu não tive condição. Eu vim pra Universidade, porque, para mim, aqui é uma fuga. Mas é uma fuga que satisfez aos meus anseios. O primeiro deles foi o de estar com jovens. É uma turma boa, os professores são muito atenciosos", conta Leny.
A escolha pelo curso não foi ao acaso, a paixão pelo Direito esteve com ela desde pequena, mas a falta de apoio da família fez Leny seguir outros caminhos. "Eu lecionei 33 anos. Foi bom, mas sempre ficou na minha cabeça que eu queria ser advogada", diz.
Assim como o novo curso, a Universidade também foi uma escolha. "A minha sobrinha fazia na Uniube e ela sempre falava muito bem. Ela disse: ‘tia vai para lá, porque é muito bom’. Eu vim e estou gostando. Não é simples, isso aqui é difícil, tem muito estudo, muita leitura, é um curso pesado, mas estou gostando", ressalta determinada.
Apesar da preocupação, pela percepção da Universidade, dona Leny está se saindo muito bem. Segundo o coordenador do curso, Alexandre Corrêa, que também é professor de Leny, a aposentada chegou tímida e cheia de dúvidas nos primeiros dias, mas já deixou claro que vai longe. "Ela ingressou no curso como portadora de diploma. Chegou na primeira semana dizendo que iria ‘testar’ o ambiente universitário novamente e que não sabia se iria ficar. Bem, parece que bastaram dois ou três dias de aulas para a Leny resolver ficar", conta o coordenador.
Alexandre conta também que a diferença de idade com o restante da turma não foi nenhum problema. "Ela fez amizades fácil, já tem uma companheira de estudo e segue acompanhando os demais alunos. Participou de todas as aulas e atividades extraclasse até aqui e se mostra muito compromissada. Já lhe disse que vou abusar da experiência dela para ajudar os mais jovens, ainda mais sendo ela professora aposentada", brinca o professor.
Graduação na terceira idade
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a população idosa no Brasil vai aumentar nos próximos anos. Atualmente o país tem cerca de 28 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, mas em 2025 a estimativa é que o Brasil seja o 6º país do mundo em número de idosos, ou seja, serão 32 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais. Logo, estudar será cada vez mais comum na 3ª idade.
No âmbito universitário, cerca de 18,9 mil estudantes possuem mais de 60 anos, segundo levantamento feito pelo Censo de Educação Superior, no ano de 2017. Para o coordenador do curso, o ingresso de alunos da terceira idade é sinal de que a universidade está cumprindo com o objetivo maior da educação, que aponta para um universo plural que abriga todos que buscam conhecimento. "É muito bom trabalhar com esta motivação e exemplo que eles trazem, como no caso da Leny. Isto mostra que o universo do conhecimento existe além da simplória perspectiva técnica de apenas atender o mercado profissional", finaliza Alexandre.