O transporte clandestino é um problema antigo que prejudica toda cadeia do transporte regular no país, mas, agora, representa mais do que isso: um risco à saúde pública em tempos de COVID-19.
Mesmo com a suspensão de operação imposta em algumas cidades e Estados pelo poder público, a partir de março deste ano, transportadores irregulares e clandestinos seguem levando passageiros por todo país, em ônibus, utilitários e carros. Se antes sua ação era camuflada pelo fluxo das estradas, agora o vai e vem ficou exposto e os flagrantes aumentaram. Diversos casos de passageiros contaminados desembarcando de ônibus clandestinos, nos últimos dois meses, em São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro entre outros Estados, chamaram a atenção da imprensa e da opinião pública.
A urgência deste tema é notória. Para discutir soluções para o problema, representantes da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros - ABRATI e da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT se reúnem nesta quinta (25/06), à tarde, em uma reunião virtual fechada.
As empresas rodoviárias de transporte regular apontam os prejuízos ao setor já que a operação das linhas não representa apenas uma burocracia e sim o atendimento a compromissos com a legalidade, segurança, geração de emprego formal e ainda, agora, a implantação de protocolos sanitários que reduzem os riscos de contágio do novo coronavírus durante a viagem. As operadoras de terminais rodoviários também reportam prejuízos já que investem regularmente nas instalações, serviços e segurança de seus usuários assim como promoveram diversas adequações sanitárias contra a COVID-19. Os terminais rodoviários das principais capitais possuem sinalização nos assentos, pisos e outros locais sobre o distanciamento, a desinfecção regular das instalações, álcool em gel à disposição assim como funcionários treinados e usando EPIs apropriados.
Números do Setor (fonte: ABRATI):
- O setor transporta 50 milhões de passageiros/ano e fatura aproximadamente R$ 7 bilhões/ano. Em 2020, o setor viveu dois momentos: um, na segunda quinzena de março,com os primeiros dias das medidas de isolamento social e suspensão das viagens em várias cidades e que representou queda de 70% de passageiros embarcados ou, em números absolutos, menos 3 milhões de passageiros/mês. Depois, o segundo momento ocorreu quando as medidas restritivas à circulação foram enrijecidas e, até mesmo, decretado lockdown em algumas regiões. Nesse momento, houve 95% de queda na receita do setor;
- Estima-se que o setor rodoviário tenha perdido cerca de 1,6 bilhões de reais até a presente data, muito embora as perdas deverão ser sentidas até o fim no ano, já que os festejos juninos, as férias de julho, todos esses marcos de receitas certas do transporte interestadual estão cancelados pelo país;
A ABRATI acredita que, com a flexibilização da quarentena em algumas cidades e a adoção de protocolos de biossegurança nas empresas de ônibus, será possível reconquistar parte da demanda de passageiros. De acordo com a associação, as empresas estão investindo muito em pesquisas de produtos e equipamentos de higienização para tranquilizar os passageiros do ponto de vista de saúde, além do mais, a aposta de que o custo benefício do rodoviário será muito atrativo para destinos regionais, viagens curtas, ecoturismo, todos bem-vindos no pós-pandemia já que a retomada será por terra e via turismo nacional.
Mas, por outro prisma, alguns postos de trabalho já foram afetados. Percebe-se que alguns grandes grupos já demitiram. "Há necessidade de que a segurança da formalidade e a regularidade sejam privilegiadas, pois a todas essas sequelas somam-se agora à questão de saúde pública quando se permite a liberdade do serviço clandestino, que eventualmente vem travestido de intermediação, plataformas de vendas digitais, carona solidária, transporte alternativo, diversos nomes que ao final significam a mesma pirataria de sempre", conclui Letícia Pineschi, conselheira da ABRATI que mediará o encontro de amanhã.