17/05/2020 às 14h57min - Atualizada em 17/05/2020 às 14h57min

Auxiliares e técnicos de enfermagem compartilham o amor e a dor da profissão

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Foto: Reprodução
São eles que estão o tempo todo ao lado do paciente, controlando medicação, cuidando da higiene e dando o máximo conforto possível, mesmo quando a dor parece não passar. Na próxima quarta-feira, dia 20, é comemorado o Dia Nacional do Auxiliar e Técnico de Enfermagem. Os profissionais, que auxiliam os enfermeiros, fazem parte do exército que combate a pandemia da Covid-19 na linha de frente. No Rio, segundo dados do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), são 183.565 técnicos e 48.504 auxiliares. Esses últimos estão em extinção. Já não são feitos mais concursos nem abertos cursos para eles.

A exposição aos riscos de contaminação tem provocado baixas na categoria. O Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Satemrj) estima que desde o início da pandemia já morreram 20 profissionais no Rio. O número dos afastados por suspeita ou confirmação da doença ainda está sendo levantado. Com um piso de R$ 1.665, muitos se desdobram em horas extras ou atividades paralelas. Mas, apesar das dificuldades, como a falta de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs, todos são unânimes: o amor pela profissão supera as dificuldades, e o sorriso estampado na face do paciente que recebe alta é a maior recompensa. O EXTRA conversou com alguns desses profissionais sobre os desafios, os medos e as aflições deles no exercício da atividade durante a pandemia. Vida longa a eles.


Christiane Gerardo (técnica de enfermagem no Hospital Cardoso Fontes)

Christiane Gerardo, de 43 anos, entrou na área da saúde pela dor, como define: foi para cuidar do pai doente. Com mais de duas décadas de profissão, a técnica de enfermagem do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, diz que a pandemia tem sido o principal desafio da carreira. Os riscos de contaminação a afastaram até de gente querida, como a mãe de 82 anos. O mais triste, segundo Christiane, é ver seus colegas adoecendo.

- Não é só medo. É a falta de condições de trabalho também. Muitos profissionais vão precisar de tratamento. Eu mesma não consigo dormir direito. A sociedade me chama de herói, mas não tenho capa.


Carla Juvenal (técnica de enfermagem no Hospital dos Servidores do Estado)

O medo da contaminação sempre rondou a técnica de enfermagem Carla Juvenal, de 45 anos, que há 16 exerce a profissão. Apesar dos cuidados, há uma semana, ela foi afastada do trabalho no Hospital dos Servidores do Estado (HSE), com os sintomas da doença. Para proteger o marido, enquanto o resultado do exame não sai, se isolou em um cômodo da casa, em Tomás Coelho:

— No meu último plantão, vi um grupo de pessoas reunidas na porta de um bar, perto do hospital. É triste ver que lutamos para salvar vidas e vemos uma parcela da população que não está valorizando a sua. Jogam nosso esforço no lixo.


Simone Melo (técnica de enfermagem no Hemorio)

Simone Rebelo Rezende Melo, de 51 anos, já foi operadora de telemarketing e vendedora. Há uma década, se encontrou atuando como técnica de enfermagem. Mas a profissão que tanto ama não fecha as contas da casa. Em paralelo, ela tem uma firma de turismo com o marido. Por causa da pandemia, a empresa suspendeu as atividades, restando a Simone, de 51 anos, o trabalho no Hemorio. No dia 21 de abril, acabou contaminado e só voltou ao trabalho há uma semana:

— O medo da gente é terrível. É muito ruim. A gente convive com a entubação e não vê nossos pacientes voltarem à vida.


Evandro Gomes (técnico de enfermagem no Hospital do Andaraí)

Pressão alta e uso de medicação para dormir na véspera do plantão. Morador de Irajá, Evandro Cruz Gomes, de 49 anos, 15 deles como técnico de enfermagem, trabalha no Hospital do Andaraí e sofre com as consequências da profissão. Para diminuir o estresse, ele assume o microfone de uma rádio comunitária, sua outra paixão. Evandro aproveita essa atividade paralela para levar aos ouvintes orientações sobre a prevenção da doença, como a necessidade de higienizar as mãos constantemente:

— Eu saio de casa preocupado, com medo de ficar doente.


Joana Darc Galdino (técnica de enfermagem no Hospital Estadual Eduardo Rabello)

Com o marido desempregado e um filho de 21 anos diabético que precisa de alimentação especial, Joana Darc Galdino é a única responsável pelo sustento da família. Só o aluguel consome R$ 1 mil por mês, praticamente o mesmo valor que recebe no Hospital Estadual Eduardo Rabello, em Santíssimo. Técnica de enfermagem há 15 anos, ela se inscreveu para trabalhar no Hospital de Campanha do Maracanã, mas só chegou a dar o primeiro plantão. Desde o começo da semana está em casa por suspeita de Covid-19:

— Mesmo com todas as dificuldades, amo minha profissão, mas me deixou doente e em depressão.


Saulo Yanowich (técnico de enfermagem e conselheiro do Coren-RJ)

Entre as pessoas que jogaram a toalha, por conta dos baixos salários e a falta de condições de trabalho, está Saulo Yanowich, de 37 anos. Conselheiro do Coren-RJ, ele trocou a rotina dos hospitais para abrir uma empresa voltada para cursos de aperfeiçoamento na área, que toca com a mulher, Rosilane, de 38 anos, também técnica de enfermagem:

— A gente está na linha de frente, exposto a todos os riscos e sofre com falta de EPIs e baixos salários. A enfermagem está num momento em que precisa se unir para mostrar seu valor e a força.


Miriam Queiróz (trabalha na Santa Casa de Campos dos Goytacazes)

No Dia das Mães, a técnica de enfermagem Miriam Queiróz matou a saudade dos filhos, de 8 e 16 anos, por chamada de vídeo. Por precaução, os dois estão com o avô, em Rio das Ostras, enquanto a mãe, de 36, trabalha na Santa Casa de Campos e numa clínica particular na mesma cidade:

— O desafio é todo dia. É desgastante e exaustivo. Falta reconhecimento da sociedade quanto ao valor da nossa profissão. Muitos colegas desistiram da profissão. O medo existe e não adianta dizer que não tem. Mas, se a gente recuar diante do medo, quem vai tratar o paciente?


Miriam Lopes (presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem - Satemrj)

Miriam Lopes, de 58 anos, é técnica de enfermagem há 33. Atualmente, ela preside o sindicato da categoria e integra também o Conselho de Saúde da AP 1, que abrange bairros como Centro, Paquetá, São Cristóvão, Catumbi e Rio Comprido. Para ela, o principal desafio, é combater uma pandemia em meio à falta de equipamentos apropriados e à luta constante por melhores salários:

— Há falta de EPIs para técnicos e auxiliares de enfermagem e, muitas vezes, quando temos o material, são máscaras que não protegem e capotes que não são impermeáveis.

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