O presidente Jair Bolsonaro se pronunciou na tarde desta sexta-feira (24) sobre o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ocorrido após a exoneração de Maurício Valeixo, chefe da Polícia Federal. Ele afirmou que o Moro condicionou a saída de Valeixo a uma indicação ao STF (Supremo Tribunal Federal) e disse que o ex-ministro "tem compromisso com seu ego e não com o Brasil".
Segundo o presidente, em uma conversa com Moro nesta quinta, o ainda ministro disse que poderia haver a troca de Valeixo sim, desde que, em novembro, seu nome fosse indicado ao STF. Bolsonaro disse que sua resposta foi reconhecer as qualidades do ex-ministro, porém negar a troca. "É desmoralizante para um presidente ouvir isso." A expectativa do presidente era definir, na conversa com Moro, o nome do substituto de Valeixo.
Bolsonaro disse que reclamava de não receber relatórios diários da PF. "Sempre falei pra ele, 'Moro não tenho informações da PF. Tenho que todo dia ter um relatório do que acontece nas últimas 24 horas para bem decidir o futuro dessa nação'. Nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo."
Ego
O presidente começou seu discurso dizendo que "uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela” e afirmando que o ex-ministro "tem compromisso consigo próprio, com seu ego e não com o Brasil".
"Ao prezado ex-ministro. Como você disse na sua coletiva por três vezes que tinha uma biografia a zelar, eu digo que eu tenho o Brasil a zelar", disse Bolsonaro.
O presidente disse ainda que Valeixo dizia estar cansado do cargo e que, na quinta-feira, em uma videoconferência com 27 superintendentes da PF, disse que desde janeiro vinha falando com Moro que queria deixar a instituição. "Os superintendentes são prova disso", afirmou Bolsonaro. O presidente contou que conversou por telefone com Valeixo na noite de quinta e que ele concordou a exoneração. "Desculpe, senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso", afirmou.
Bolsonaro disse que sempre deu liberdade a seus ministros, inclusive pra a nomeação de cargos chaves de cada pasta, No entanto, argumentou que é exclusivamente ao presidente que a lei confere a prerrogativa de nomear e exonerar os principais nomes de sua equipe.
Verdade
Foto: Reuters
No início da tarde, o presidente havia anunciado: “restabelecerei a verdade sobre a demissão a pedido do Sr. Valeixo, bem como do Sr. Sérgio Moro". Em pronunciamento no Ministério da Justiça e Segurança Pública esta manhã, Moro negou ter assinado o decreto de exoneração do chefe da PF e também disse que Valeixo não saiu a pedido, conforme consta no documento.
Braço-direito e homem de confiança do ex-juiz da Lava Jato, Valeixo teve sua exoneração publicada no Diário Oficial da União desta sexta em uma decisão que surpreendeu o agora ex-ministro. De acordo com Moro, a expectativa é que Valeixo fosse transferido para um posto de adido da corporação em Portugal.
Foi o próprio ex-ministro quem escolheu Valeixo para o comando da PF. Valeixo foi indicado ainda em novembro de 2018, durante a transição presidencial. Ele era superintendente da Polícia Federal no Paraná, onde, assim como Moro, atuou na Operação Lava Jato.