‘Não sou feminista’, diz repórter que repreendeu assediador na Copa

Julia Guimarães, da TV Globo, foi surpreendida no último domingo, quando um homem tentou beijá-la momentos antes de ela entrar ao vivo de Ecaterimburgo

30/06/2018 16h43 - Atualizado em 30/06/2018 às 16h43
‘Não sou feminista’, diz repórter que repreendeu assediador na Copa
Divulgação
Julia Guimarães se preparava para um link ao vivo do estádio de Ecaterimburgo, na Rússia, antes do jogo entre Japão e Senegal pela Copa do Mundo, quando um homem tentou beijá-la, no último domingo. A resposta da repórter da TV Globo ao assédio foi rápida: Julia repreendeu, em inglês, o rapaz, afirmando que ele deveria respeitar as mulheres. “Nunca mais faça isso, ok?”, disse, enquanto o homem pedia desculpas. Nas redes sociais, Julia tem recebido elogios pela atitude, mas ela diz que parou de acompanhar a repercussão porque também há — acredite se quiser — comentários negativos de pessoas que dizem que tudo não passa de “mimimi”.

Em entrevista a VEJA, a jornalista fala sobre assédio, feminismo e movimentos como o Time’s Up, que surgiu em Hollywood após a denúncia de várias atrizes que sofreram assédio e abuso no meio. “Acredito que o feminismo seja importante, necessário, mas a minha opinião é que a principal bandeira que temos que levantar com ímpeto é a do respeito”, diz.

 

Sua reação ao ser assediada no último domingo foi muito rápida. O que pensou naquele momento? 

Sempre imaginava como iria reagir se acontecesse isso comigo. Jamais pensei que faria isso. Até me surpreendi positivamente pelo que falei e da forma como falei. Foi realmente muito rápido, mas pensei que era a hora da pessoa entender que aquilo não é engraçado, não é certo.

Teve medo de o assediador ter uma reação mais violenta? 

Em nenhum momento tive medo, até porque eu estava em um local público, onde havia muitas pessoas, inclusive policiais. Na hora em que reagi, o rapaz começou a sair de perto de mim e eu percebi que nada iria acontecer.

Uma situação como essa já havia acontecido com você? Essa foi a segunda vez durante a Copa aqui na Rússia. Mas nunca havia acontecido comigo antes, e tenho que falar que foi por sorte. Nós já vimos quantas pessoas já sofreram com esse tipo de situação.

Repórteres de outros países também foram assediadas enquanto cobriam a Copa da Rússia. Por que isso tem sido tão recorrente?

 
Acredito que seja por causa do clima que ronda um evento como esse. Muitas pessoas passam dos limites e acham que nesse tipo de festa está tudo liberado, que podem fazer o que quiserem. E, nesse caso, eu não incluo somente o assédio, mas também o racismo e a homofobia.

A Rússia é um país mais machista, onde as mulheres são mais assediadas?

Acredito que sim, mas não acho que seja tão diferente do que vemos no Brasil, por exemplo. A Rússia tem esse machismo como uma herança de um passado recente, da época soviética. O país está começando a mudar, mas a passos lentos. O machismo é algo cultural por aqui, mas vale ressaltar também que esse tipo de situação acontece em vários lugares do mundo.

Tem acompanhado os comentários e reações do público sobre o caso? 

No início eu acompanhei, mas depois parei de ler por causa dos comentários negativos. É triste ver como existem pessoas que ainda acham isso um “mimimi”. Ao mesmo tempo, lendo os comentários positivos, foi uma alegria muito grande saber que a minha reação pode inspirar gente que sofre qualquer tipo de assédio.

Algumas pessoas associaram o assédio que você sofreu ao episódio ocorrido com o repórter Ben-Hur Correia durante as Olimpíadas de 2016, quando ele foi abordado na rua por um grupo de mulheres que estavam em uma despedida de solteira. A comparação é correta?

 Acho essa comparação errada. São as mulheres que, historicamente, sofrem com os abusos e a violência sexual. 

Acha que as pessoas vêm entendendo mais sobre questões como assédio e consentimento após movimentos como o #MeToo e o #TimesUp?

A partir do momento em que as pessoas começam a expor seus pontos de vista, discutir, mas claro que de forma respeitosa, já estamos dando um excelente passo. Esses movimentos foram e ainda são importantes não só para questões relacionadas ao assédio, mas também pela busca da igualdade entre homens e mulheres.

Você se considera feminista? O feminismo se faz necessário? 

Eu não me considero feminista. Acredito que o feminismo seja importante, necessário, mas a minha opinião é que a principal bandeira que temos que levantar com ímpeto é a do respeito.


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