28/06/2018 às 22h33min - Atualizada em 28/06/2018 às 22h33min
Policial sequestrado por traficantes relata como foi agredido e torturado
O agente, que trabalha no Batalhão de Grandes Eventos, entrou por engano na comunidade após seguir uma rota do GPS, e por pouco não foi morto.
Foto: Dayana Resende / O Globo Um sargento da Polícia Militar que foi sequestrado nesta quinta-feira por traficantes da Favela Kelson's, na Penha, Zona Norte do Rio, contou detalhes dos momentos em ficou em poder dos criminosos. O agente, que trabalha no Batalhão de Grandes Eventos, entrou por engano na comunidade após seguir uma rota do GPS, e por pouco não foi morto.
Os bandidos fizeram ao menos dez disparos em direção ao carro do PM, um Fiat Uno branco. Nenhum tiro atingiu a vítima. Após o ataque, o grupo revistou o veículo e encontrou a arma do policial:
- Eles me seguraram pela camisa e me levaram para o interior da comunidade. Foram me espancando pelo caminho. Chegando no deck, as agressões pioraram. Me deram muitos socos, chutes e me bateram com pedaços de madeira - contou o sargento, que estava com o olho inchado e vários ferimentos pelo corpo:
- Uns diziam que era para me matar e sumir com o corpo. Outros falavam que não, que o problema deles não era com a polícia, mas com a facção rival.
O sargento ficou cerca de 40 minutos sob o poder dos criminosos. Ele só foi liberado depois que os traficantes souberam que a Polícia Civil estava num dos acessos à comunidade, pronta para iniciar a operação de resgate:
- Eles ficaram com medo de ter operação e decidiram me libertar. Primeiro pediram para eu sair com meu próprio carro, mas o pneu estava furado com os tiros. Então chamaram o mototaxista para me levar. Até resolverem se me matariam ou não, foram mais sessões de tortura.
Após o resgate, os policiais fizeram uma incursão na comunidade e conseguiram recuperar a arma do sargento. O suspeito morto na ação, segundo a vítima, era um dos criminosos que o havia abordado:
- Ainda estou meio tonto. Passou um filme na cabeça enquanto eu apanhava. Lembrei da minha família, das minhas duas filhas e me perguntei se não estava na hora de sair (da PM) - disse, emocionado, após prestar depoimento na 22ª DP (Penha).
Além de ser agredido, ele ainda teve pertences roubados, como cinto, cordão e tênis. Antes de prestar depoimento o policial foi levado ao Hospital estadual Getúlio Vargas, onde recebeu atendimento médico.
REPRESÁLIA APÓS OPERAÇÃO
Em represália a operação de resgate que aconteceu na comunidade, e que terminou com um morto, traficantes colocaram fogo em dois caminhões. Metade da carga foi queimada, e a outra metade foi saqueada por moradores. Um dos caminhões transportava caixas de frango avaliadas em R$ 170 mil. O outro transportava linguiça calabresa — a carga era avaliada em R$ 219 mil.
- Estávamos parados, esperando para descarregar o caminhão, e eles (os bandidos) começaram a arremessar pedras. Quebraram os vidros e jogaram um pano com fogo dentro. Queimou tudo, inclusive meus pertences - disse um dos motoristas, que veio do Paraná com uma carga de peito de frango.
Ainda de acordo com o motorista, o que não foi queimado foi saqueado pelos moradores:
- Pareciam urubu na carniça.
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