Em busca de um determinado padrão de beleza, muitas pessoas se arriscam na realização de procedimentos com objetivo estético com indivíduos que não são qualificadas e que não utilizam produtos adequados. O silicone industrial e o óleo mineral são alguns dos produtos mais utilizados nestes procedimentos.
“Na verdade, isso não é um procedimento estético, é uma lesão corporal ou tentativa de homicídio”, alerta o vice-presidente da Associação Brasileira de Médicos com Expertise de Pós-Graduação (ABRAMEPO), Eduardo Costa Teixeira. O silicone industrial – por exemplo – produto bastante utilizado nos glúteos, pode causar embolia pulmonar e, logo, levar à morte.
“É bom deixar claro que procedimento estético é aquele que é feito por um profissional habilitado utilizando produtos devidamente registrados. O que temos visto são falsos procedimentos, na verdade ações criminosas que causam vítimas”, explica.
Como o próprio nome indica, o silicone industrial não é para uso humano. O produto fica no tecido, não se fixa, pode infiltrar nos tecidos vizinhos, bem como na pele e necrosar. O uso também é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “É uma questão importante de saúde pública, sempre há casos de pessoas que morrem por causa do uso do produto”, observa o médico.
Não são raros os casos divulgados pela imprensa. Em agosto deste ano, a morte de uma jovem em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, levou a polícia a descobrir um esquema de aplicação de silicone industrial. Meses antes, em fevereiro, outra mulher faleceu no Hospital de Trauma de João Pessoa, na Paraíba, também por causa do uso do silicone industrial.
Óleo Mineral
Já a dona de casa Ana Lúcia da Silva, 37 anos, da cidade do Rio de Janeiro, é uma das pessoas que teve problema com o uso do óleo mineral. Ela conta que ficou sabendo do produto há cincos por meio de alguns rapazes que faziam exercício físico numa praça nas proximidades de sua casa. “Eu peguei no braço de um deles e perguntei como ficava daquela forma. Os rapazes me contaram que era óleo mineral e eu perguntei se era possível colocar em mulher, disseram que sim”, lembra.
Ela gastou R$ 1 mil em cinco sessões para a aplicação do produto. “Durante os dois primeiros anos, eu não tive problemas, o resultado foi o esperado. Depois, começou a necrosar e nunca mais parou, eu não tenho nem mais carne nos glúteos, só músculo”, ressalta.
Ana Lúcia convive com o problema há três anos e conta que soube de casos de pessoas que tiveram membros amputados por causa do uso do óleo mineral. “Já tentei todo o tipo de tratamento. Eu estou em casa usando curativo”, diz. Ela conta que no fim de outubro tem uma consulta no hospital da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A expectativa é que o problema possa ser solucionado.
Sem registros
O vice-presidente da ABRAMEPO observa que há vários casos que são divulgados pelas redes sociais de pessoas pedindo ajuda para resolver as complicações provenientes do uso do silicone industrial e óleo mineral. Ele acrescenta que não há dados oficiais sobre as pessoas que tiveram problemas de saúde por causa desses produtos ou ainda que morreram por causa de complicações. “É fato que os órgãos públicos e muitas entidades médicas não têm dado a atenção que esses casos merecem”, critica o médico.
Comprar o silicone industrial não é difícil. E isso pode explicar a opção pelo produto. Ele pode ser encontrado em lojas de material de construção por preço baixo. A indicação do produto está especificada no rótulo: limpeza de peças de avião e carro, impermeabilização de azulejos, vedação de vidros, manutenção de esteiras. Entretanto, algumas pessoas acreditam que não existe problema em usar o produto para injetar no corpo e aumentar as medidas dos seios, quadril ou das coxas. “O produto é aplicado em clínicas clandestinas ou mesmo no fundo de casas e quarto de hotéis, sem qualquer tipo de segurança para a pessoa”, observa.
Além de afetar a saúde da pessoa que recebe o produto, aplicar silicone industrial é crime. Na maioria dos casos, o procedimento é feito por pessoas que não têm formação em medicina. Dessa forma, elas podem responder por exercício ilegal da medicina com prisão de seis meses a dois anos. Vale ressaltar que também é crime a venda de produto sem registro na Anvisa e sem qualidade necessária para fins estéticos, com pena de 10 a 15 anos de reclusão.
Teixeira frisa que não existe nenhum tipo de silicone industrial e óleo mineral que seja aprovado para uso em procedimentos estéticos. Logo, o material não pode ser aplicado no corpo humano por qualquer tipo de profissional, médico ou não.