A Fiber Bio, das estudantes da Unila Mariana, Isadora e Gabriele vai passar por uma aceleração de três meses oferecida pela brasileira Klabin e pela alemã Voith.
Elas estão ajudando a melhorar o ranking do empreendedorismo tecnológico, um campo bastante fértil, mas ainda pouco explorado pelo universo feminino. Com criatividade, comprometimento e muita pesquisa, Isadora Saraiva Zamataro, de 21 anos, Mariana Siqueira e Gabriele Bueno, ambas de 22 anos, acadêmicas do 4º ano do curso de Engenharia Química da Universidade Federal Latino-Americana (Unila), criaram a Fiber Bio, empresa de embalagens sustentáveis inteligentes produzidas a partir do reaproveitamento de resíduos agroindustriais e produtos naturais.
A startup vem conquistando reconhecimento dentro e fora do País. E, agora, conta com a chancela da Klabin maior produtora e exportadora de papéis do Brasil, e da multinacional alemã Voith, que atua nas áreas automotiva e engenharia mecânica.
Na prática, isso significa apoio técnico e crédito para poder aprimorar a ideia e colocar as embalagens da marca no mercado. E, como consequência, o ‘pulo do gato’ para quem precisa chegar lá: boa reputação.
O sonho das estudantes começou em 2018, quando elas estavam no segundo ano do curso e tinham como foco aprender e empreender. Inicialmente, elas queriam fazer algum projeto na área de iniciação científica para ampliar conhecimento sobre o curso, mas logo viram que tinham vocação para a inovação. Aí, arregaçaram as mangas e foram atrás da oportunidade.
Não poderia ser algo qualquer; precisava ter identidade com o que Mariana, Isadora e Gabi acreditam. "Tinha que ter a nossa cara", definem. Foi nessa busca por um projeto sustentável que elas começaram a explorar o mundo das ideias. A primeira tentativa foi com a disputa de um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) chamado "Meninas nas Ciências Exatas, Engenharia e Computação", voltado para estimular a participação de garotas de escolas públicas em atividades na área de Exatas.
Por meio de um professor, que hoje é sócio da Fiber Bio, elas desenvolveram um projeto de construção de impressoras 3D a partir de materiais reciclados. O projeto não foi aprovado, mas elas não desanimaram. Virou uma espécie de ensaio do que viria pela frente.
Estudando aqui e ali e tentando achar um projeto mais a ver com elas, as empreendedoras conseguiram desenvolver uma solução para uma grande preocupação do trio: o uso e descarte extensivo do plástico convencional. Para isso, elas contaram com a orientação dos professores Aref Kzam, doutor em Engenharia Civil, e Caroline Gonçalves, pós-doutora em Química Orgânica. Sócios da empresa, eles atuam mais como consultores técnicos.
Em pouco tempo, elas iniciaram o desenvolvimento em laboratório de um polímero biodegradável feito a partir de resíduos de indústrias localizadas próximo a Foz do Iguaçu. Poucos meses depois, elas inscreveram o projeto num edital do Programa Sinapse da Inovação, do governo do Estado. Elas concorreram com outras 1.850 ideias, em três fases. O prêmio estadual veio na forma de aporte financeiro.
Com o recurso, em fevereiro, elas formalizaram a empresa, que hoje está em período de pré-incubação e recebe apoio também do Sebrae. Em meio ao ímpeto do empreendedorismo, as sócias foram surpreendidas, assim como o resto do mundo, pela pandemia da covid-19. Outra vez, nada de lamentações. Sem aulas presenciais e possibilidade de pesquisa no laboratório, elas investiram no aprimoramento das próprias habilidades como empreendedoras, para dar uma sacudida na estrutura do negócio.
Foi exatamente nesse ínterim que elas ficaram sabendo de uma nova oportunidade, o Startups Connected, da Câmara Brasil-Alemanha. Elas concorreram na categoria embalagens sustentáveis e inteligentes, no desafio das empresas âncoras Voith e Klabin, de projetos sustentáveis e inteligentes, cujo objetivo é encontrar soluções baseadas em tecnologias emergentes e modelos inovadores.
No dia 17 de agosto elas ficaram sabendo que estavam entre as cinco finalistas. Em setembro, veio o resultado final: elas venceram o desafio e terão três meses para acelerar o desenvolvimento do produto. Agora, no próximo dia 24 de setembro, elas vão apresentar um pitch de negócios num evento internacional, o 8º Congresso Brasil-Alemanha de Inovação.
As universitárias explicam que a Fiber Bio foi criada como uma alternativa sustentável para substituição de embalagens plásticas. Unindo conhecimentos do ramo da engenharia e da química, as meninas e os professores formam uma equipe comprometida com a sustentabilidade, visando soluções inovadoras para o mercado de embalagens.
Depois da Alemanha, a meta das universitárias é focar ainda mais na empresa, colocar o produto no mercado e seguir no ramo do empreendedorismo. Mariana é de Louveira, interior de São Paulo; Gabi é iguaçuense; e Isadora é de Londrina, no Norte do Paraná. Por causa da pandemia, cada uma delas está em casa. Distantes fisicamente, mas sempre ligadíssimas e unidas pela internet, não param um só minuto de se dedicar à empresa, que já é um sucesso por ter conquistado disputas importantes em meio a tantos outros projetos inovadores. E o melhor, feito diretamente em Foz do Iguaçu. É talento prata da casa.
"Não imaginávamos que conseguiríamos, em tão pouco tempo, conquistar esse reconhecimento. Para nós, isso foi fundamental. Vamos continuar acreditando que vale a pena investir em tecnologia e inovação e criar soluções sustentáveis para termos um mundo cada vez melhor, para essa e as próximas gerações", concluem as jovens empreendedoras.