10/03/2020 às 10h05min - Atualizada em 10/03/2020 às 10h05min

Coronavírus: 'Estão todos em pânico, passamos de um extremo ao outro', diz médica brasileira na Itália

Terra
Foto: Reprodução
A médica brasileira Mariana Dacorégio faz parte do imenso mutirão de profissionais de saúde na linha de frente do combate ao coronavírus na Itália, o segundo país mais afetado pelo surto, depois da China.

Em entrevista à BBC News Brasil, ela diz acreditar que os italianos "subestimaram" o impacto do alastramento do vírus.

"Agora, estão todos em pânico. Passamos de um extremo ao outro", afirma Dacorégio, que é médica residente do Hospital Civil de Brescia, uma das cidades da região da Lombardia que esteve isolada por ser um dos focos iniciais do surto.

"O hospital onde trabalho tem capacidade para dois mil leitos. Além da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), tivemos que converter diversos departamentos, como o de cirurgia, para atendermos casos de coronavírus", acrescenta.

Dacorégio diz ainda que os profissionais de saúde estão tendo que fazer longas jornadas de trabalho.

"Tivemos que aumentar nossos turnos de trabalho. Os residentes de outras especialidades, que inicialmente tinham sido dispensados para evitar novos contágios, foram chamados de volta para nos ajudar no atendimento de pacientes contagiados pelo covid-19."


Ela também conta que o surto provocou mudanças não só em sua vida profissional, mas também pessoal. "Desde o fechamento das escolas, eu e meu marido temos tido que nos revezar para ficarmos em casa com nosso bebê de um ano. Não há babás o suficiente e as que estão disponíveis devem cuidar de um número limitado de crianças", diz.

O refeitório do hospital onde ela trabalha também foi fechado. "Estamos levando o almoço de casa", conta.

Na segunda-feira (9/03), o governo italiano anunciou medidas drásticas para a contenção do coronavírus, ao ampliar para todo o país a quarentena que antes se restringia às regiões do norte.

A partir desta terça-feira (10/03), ninguém pode sair de casa sem justificativa médica ou familiar. Escolas e universidades vão permanecer fechadas até o dia 3 de abril.

Quem descumprir as regras, está sujeito a três meses de prisão e multa de 206 euros.

A campanha para que os italianos não saiam de casa está modificando as interações sociais. A população é convidada a evitar lugares públicos e até encontros familiares nos finais de semana.

Além disso, estabelecimentos comerciais de todo o país, como bares e restaurantes, devem garantir uma distância de segurança mínima de um metro entre os clientes, sob pena de fechamento. Muitos bares tem colocado faixas para impedir a aproximação dos clientes ao balcão e utilizado obstáculos para distanciar as mesas.

"Da janela de casa vejo os policiais fazendo rondas constantes para verificar se os clientes do bar estão cumprindo as regras", diz à BBC News Brasil a brasileira Ana Claudia Gomes Negrão, que mora em Limbiate, nas redondezas de Milão.

Além disso, os locais podem funcionar apenas até as 18h. "Os italianos têm o costume de frequentar os bares durante o horário de aperitivo e muitos estão desapontados por terem que modificar os próprios hábitos de vida", conta a mineira de 44 anos.

O isolamento forçado é outra preocupação para Ana Cláudia, mãe de três filhos. "As crianças estão se sentido prisioneiras por não poderem sair de casa. E ainda tenho que convencer o mais velho, de 20 anos, a não sair com os amigos nos finais de semana".

Ela conta que a família deverá cancelar as férias para o Brasil, previstas para junho, por causa dos exames escolares. "As provas de final de curso (correspondentes ao Enem) ainda não têm data definida."


Ana Claudia Gomes Negrão mora em Limbiate, nas redondezas de Milão
Foto: Arquivo pessoal/BBC / BBC News Brasil


Silêncio no ônibus

Segundo Ana Cláudia, a sensação de insegurança é ainda maior nos tranportes públicos.

"Nos ônibus, os passageiros são poucos e todos viajam em completo silêncio. Ninguém fala com ninguém, nem ao celular. O clima é pesado, como se estivessem todos em pânico".

"Meu medo não é apenas o contágio do coronavírus, mas a eventualidade de precisar de cuidados médicos e os hospitais não terem condições para o atendimento".

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