30/07/2019 às 14h26min - Atualizada em 30/07/2019 às 14h26min
Homem será solto após ficar cinco anos preso por crime que não cometeu
O caso repercutiu na imprensa local e o termo usado para se referir ao suspeito de crimes sexuais era maníaco da moto.
Extra
Foto: Reprodução O borracheiro Antônio Cláudio Barbosa de Castro, de 35 anos, ficou cinco anos na prisão por um crime que não cometeu. Segundo a Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará, o alvará de soltura será cumprido na tarde desta terça-feira.
No julgamento de revisão deste caso no Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), realizado nesta segunda-feira, oito desembargadores acataram o pedido da defesa, que já tinha sido consentido pelo Ministério Público. Condenado a nove anos em regime fechado por estupro de vulnerável em novembro de 2015, Antônio agora passa a ser tratado como inocente das acusações.
À época, o caso repercutiu na imprensa local e o termo usado para se referir ao suspeito de crimes sexuais era "maníaco da moto". No entanto, enquanto o agressor era descrito pelas vítimas com uma altura de 1,80m, Antônio Cláudio tem apenas 1,59 m. Além disso, ao longo das investigações ele não foi reconhecido pelas mulheres abusadas sexualmente.
A família do borracheiro comemorou a decisão desta segunda-feira diante da apresentação dos novos elementos e argumentos que comprovavam a inocência dele.
Foto: Divulgação / Defensoria Pública do Estado do Ceará
"Eu não tenho nem como explicar, me faltam palavras para descrever tamanha felicidade que hoje estamos vivendo", disse Claudênio de Castro, um de seus irmãos.
O outro irmão de Antônio Cláudio, Thiago de Castro, descreveu a situação como um alívio.
"Não conseguimos imaginar tamanho sofrimento que ele passou lá (dentro do sistema prisional), eu acho que você pode imaginar o quão difícil é passar cinco anos no cárcere, sem você ter cometido crime algum, longe de família e de tudo. Eu diria ao meu irmão hoje que ele é um guerreiro, um vitorioso", acrescentou.
A irmã Geralda de Castro, por sua vez, agradeceu o defensor Emerson Castelo Branco por ter acolhido a causa e "lutado por eles".
"É uma alegria tão grande que tá saindo do meu coração, porque, a gente nunca deve desistir do que a gente acredita, porque quando acreditamos, nós vencemos. A gente luta. Houve tantas barreiras, portas batidas", contou emocionada.
"Hoje foi feita justiça pelo Tribunal de Justiça – uma das maiores injustiças já acompanhadas por mim, em meus 16 anos como defensor público. Um rapaz que vivia uma vida maravilhosa, normal, idôneo, honesto, trabalhador, que, de uma hora para outra, teve a vida destruída por engano. Colocado na prisão por um grande equívoco que durou cinco anos. Quero parabenizar as investigadoras do caso, que foram fundamentais, por causa da postura delas, identificaram o erro no caso e nos procuraram", disse Castelo Branco, defensor público titular do Núcleo de Apoio ao Preso Provisório e Vítima de Violência (Nuapp).
Os defensores públicos que trabalharam neste caso contaram com o apoio da Innocence Project Brasil, que visa a enfrentar condenações de pessoas inocentes pelo mundo. Este foi a segunda vitória da entidade no país e a primeira no estado. A organização foi procurada pela família de Antônio neste ano.
A advogada Flávia Rahal, do Innocence, declarou ter sido "prazeroso perceber que o Tribunal de Justiça do Ceará reconheceu, a partir das novas provas, que ele é inocente".
"A partir de agora é fazer com que ele saia de lá. Nossa primeira e maior preocupação é a liberdade dele, que é o que estamos focados em fazer e é a prioridade de atuação do Innocence Project e da Defensoria Pública do Estado do Ceará, continuaremos a luta para realizar isso rapidamente", destacou ela.
A defesa de Antônio Cláudio contou ainda com a atuação dos defensores públicos Carlos Alberto Mendonça e Arístocles Canamary.