07/05/2019 às 09h24min - Atualizada em 07/05/2019 às 09h24min

Mulher denuncia funcionário de farmácia de shopping por racismo após ser acusada de furtar creme

Mulher diz ter sido vítima de calúnia e racismo e denunciou caso à Polícia Civil.

g1
Foto: Reprodução/Facebook
Uma moradora de Salvador denunciou por racismo um funcionário de uma unidade da rede de farmácias Drogasil, localizada dentro do Salvador Shopping, após ter sido abordada e acusada injustamente de furtar um creme preventivo de assadura no estabelecimento comercial.

Maria Angélica Calmon, 54 anos, que atua como assessora de formatura e eventos, usou as redes sociais para desabafar sobre o ocorrido e relatou o caso em entrevista ao G1, nesta terça-feira (7). Ela acredita que tenha passado pela situação pelo fato de ser negra.

Ela conta que tudo aconteceu no dia 17 de abril, que a situação a deixou bastante abalada e que somente depois que conseguiu se recuperar psicologicamente, tomou coragem para divulgar o ocorrido.

"Eu entrei na farmácia para me encontrar com minha filha, minha mãe e minha neta, que já estavam la dentro. Minha mãe tem problemas cardíacos e é hipertensa, e tinha ido lá para comprar remédios. Enquanto elas pegavam os medicamentos, eu fiquei olhando a farmácia, vendo alguns hidratantes. Depois que elas pagaram, saímos e fomos para a praça de alimentação", destacou.

Cerca de 2h depois, segundo Maria, o funcionário da farmácia foi atrás dela na praça do shopping e a acusou de furto.

"Eu estava na praça principal com minha neta, que estava um parque infantil, e ele me abordou, duas horas depois. Achei inicialmente que era uma pegadinha, uma brincadeira de mau gosto. Mas ele disse que era sério, que tinha me visto nas câmeras de farmácia furtando um creme. Eu, então afirmei que aquilo era uma calúnia".

A mulher contou que relatou ao funcionário que estava com um turbante na cabeça e que não teria como ele a confundir com outra pessoa, mas que ele continuou a acusando de furto. Ela afirma que, então, decidiu jogar tudo que estava dentro da bolsa dela no chão, para provar que não tinha furtado nada.

"Como minha mãe e minha filha estavam em outro lugar quando ele me abordou, e eu estava apenas com minha neta, eu pedi a uma mulher que estava na praça para ser testemunha, enquanto eu esvaziava a bolsa. Joguei tudo no chão para ele ver que não tinha nada. Só faltou eu tirar a roupa. Ele viu que realmente eu estava certa e depois ainda disse que eu não precisava fazer aquilo tudo, e saiu correndo", afirma.

A cliente conta que começou a gritar, e que um segurança do shopping foi ao encontro dela para saber o que tinha acontecido. Depois, ela conta que foi orientada pela mulher que testemunhou o momento que ela esvaziou a bolsa a prestar uma queixa na unidade de atendimento ao cliente do shopping.

"Fui no centro de atendimento ao cliente e depois na delegacia. A gente não pode ficar calado diante dessas situações. Eu não tenho inimigos, mas se tivesse, não desejaria que passasse por um vexame desses. Quando eu comecei a gritar, um segurança veio, mas também não fez nada, nem foi atrás do funcionário da farmácia. Ele [o funcionário] não teve nenhuma decência mesmo diante da minha neta, que ficou traumatizada com tudo aquilo e agora tem medo até de entrar em farmácias", destaca.

"O que ele [o funcionário] queria mesmo era me humilhar na praça. Se eu fosse uma mulher branca, ele não me abordaria do jeito que abordou. Ele achou que ia ficar impune, mas não vai. Sou uma pessoa simples, que não tem intenção nenhuma de fazer nada a ninguém que não seja justo. Fiquei um tempo abalada e depois decidi externar isso. Fiz relato no Facebook para que as pessoas saibam, e casos como esses não ocorram mais. O denunciei por calúnia e racismo", destacou.

 

Cinco dias depois do ocorrido, Maria afirma que recebeu uma ligação da gerente da farmácia pedindo desculpas pelo que tinha acontecido. Maria Angélica diz, no entanto, que fez a denúncia na 16ª Delegacia da Pituba e que pretende, ainda, levar o caso ao Ministério Público da Bahia.

Por meio de nota, a Drogasil informou que discorda veementemente da atitude do funcionário que abordou Maria Angelica Calmon, como foi relatado. Afirmou que o comportamento do funcionário "não reflete de forma alguma os valores da Drogasil".

"Pedimos desculpas à Sra. Angélica e informamos que a empresa está concluindo as averiguações e tomará as providências para que o fato não se repita", diz trecho da nota.

A Drogasil ainda afirmou que é "uma empresa com 84 anos e com valores que prezam pela ética e as relações de confiança e respeito, e valorizam o ser humano dentro e fora da empresa".

O Shopping Salvador informou, também por meio de nota, que lamenta o fato relatado pela cliente.

"A administração reforça que prestou assistência imediata e está acompanhando a situação junto à loja desde que a ocorrência foi registrada no Centro de Atendimento ao Cliente, seguindo à disposição das autoridades para esclarecimentos".

A administração do shopping disse, também, que repudia qualquer atitude discriminatória por parte de lojistas e colaboradores.

"O empreendimento é, inclusive, uma referência por desenvolver ações de combate ao racismo, tendo recebido por quatro anos consecutivos o Selo da Diversidade Étnico-Racial, concedido pela Secretaria da Reparação da Prefeitura de Salvador como um reconhecimento público de ações de promoção da equidade racial nas políticas de gestão de pessoas e marketing".

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