10/12/2018 às 19h58min - Atualizada em 10/12/2018 às 19h58min

Aproximação com os EUA é positiva para o Brasil

O agronegócio brasileiro e os produtores de aço podem ser os mais beneficiados se acontecer um alinhamento entre Trump e Bolsonaro

R7
Reuters
"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil".

A frase célelebre do embaixador brasileiro, Juracy Magalhães, entrou para a história como padrão de sabujice, de subserviência dos habitantes destes tristes trópicos aos senhores de Washington.

Cabe aqui um esclarecimento importante em nome da verdade histórica. O ex-governador baiano, primeiro embaixador credenciado na capital americana após o "movimento de 1964", como prefere Dias Toffoli, respondia a uma pergunta de um repórter sobre com que estado de ânimo assumia o posto. Ex-militar, afirmou solenemente e ingenuamente que "o Brasil fez duas guerras como aliado dos Estados Unidos e nunca se arrependeu. Por isso eu digo que é o que bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil".

Como se vê, tirada do contexto, ela perde o seu sentido intrínseco e vira peça para os esquerdistas da época baterem o bumbo contra os investimentos americanos no país.    

Tempos depois, Lula, em visita aos EUA em 2002, mimetizou em outro cenário a frase de Magalhães, mas ao contrário daquele, sua fala foi recebida com entusiasmo. Instado pela imprensa a responder sobre a aproximação do PT com o Partido Comunista da China, Lula foi pragmático, como sempre: "Eu não conhecia a China muito bem, até que o governo americano fez da China seu parceiro comercial preferencial. E eu pensei comigo mesmo: ‘se é bom para os americanos, deve ser bom para os brasileiros.’ Nós vamos trabalhar muito estreitamente com a China, porque ela é um parceiro importante para os nossos objetivos comerciais." 

Pois é.

Magalhães e Lula, com propósitos distintos, apenas expressaram o óbvio. Os EUA não precisam ser bajulados, mas também não podem ser negliegenciados (e até desprezados) como os governos petistas tentaram fazer nos últimos anos. 

Deixemos o ranço ideológico e funesto para as conversas da Vila Madalena, e reconheçamos o mundo como ele é. Apostar que o Brasil ganhará mais com acordos feitos com nações marginalizadas, como Venezuela e Cuba, é convidar o Diabo para dançar. Caracas está para Washington como Pablo Vittar está para Frank Sinatra.   

Desde que os Estados Unidos tornaram-se a maior potência econômica e militar após a Segunda Guerra Mundial, nenhum país no restante do planeta pode entrar em confronto com o que pensa os ocupantes da Casa Branca.

E essa máxima é tão mais severa quanto mais a nação em questão esteja afastada dos grandes círculos de poder. O que, miseravelmente, é o caso do Brasil. 

Mesmo durante a Guerra Fria, a disputa entre EUA e URSS restringia-se ao campo político. Fora dele, americanos e soviéticos mantinham uma distância abissal. Não por acaso, quando a grande união das repúblicas socialistas virou pó, a Rússia que sobrou dela emergiu como potência capitalista nas mãos de Vladimir Putin.      

No embate atual entre EUA e China, até pela proximidade territorial, mas, sobretudo, pelas afinidades culturais e históricas, o novo governo terá mais êxito em optar pelo alinhamento com Washington. 

O próprio Donald Trump foi assertivo na primeira declaração depois da vitória de Jair Bolsonaro: "Nós concordamos que o Brasil e os EUA vão trabalhar em estreita colaboração com o comércio, militar e tudo mais". Em 2017, pela primeira vez, depois de oito anos, o Brasil teve um superávit de US$ 924 milhões com os EUA.

Muito desse dinheiro obtido com as exportações brasileiras veio do aço. Os americanos são responsáveis pela compra de 40% de toda produção brasileira e são o segundo na importação de aluminino, atrás apenas do Japão. 

Caso Bolsonaro e Trump consigam estreitar os laços, o Brasil pode ser beneficiado em cinco pontos centrais:

1 - Ficar imune a um acirramento na guerra com a China; o aço brasileiro, por exemplo, não teve taxação aumentada na última pendência entre os dois gigantes mundiais, o que aumentou substancialmente a nossa balança comercial.

2 - O agronegócio brasileiro ser favorecido, notadamente, a soja e a laranja. Trump tem uma agenda protecionista, mas o Brasil acabou elevando suas exportações de soja durante a disputa com a China. 

3 - Maior investimento em empresas brasileiras. A presença do capital americano aqui foi perdendo espaço, justamente, para os chineses. Uma reaproximação mais aguda ajudaria a trazer mais dinheiro para cá.

4 - A facilitação de negócios de brasileiros nos EUA. Tendo o Brasil como um parceiro privilegiado, os EUA podem conceder ao país muitos dos benefícios destinados ao Canadá e à União Europeia, por exemplo.

5 - Por último, uma relação mais azeitada facilitaria a entrada de brasileiros nos EUA e a vinda de turistas americanos para o Brasil. Depois dos argentinos, são os americanos quem mais vêm comer feijoada e beber caipirinha.  

Isso não quer dizer que os Chineses devam ser abandonados. Pelo contrário. São os nossos maiores parceiros comerciais e devem merecer um tratamento especial, assim como a Argentina. O que se discute é o uso da política externa para a realização de negócios. É para isso que servem as embaixadas: trazer dinheiro para o país. Ponto. Não para engordar os cofres de ditaduras afinadas com a esquerda, como Lula e Dilma fizeram.     

O berreiro visto hoje atende muito mais à subscrição de um ideário obsoleto, atolado numa divisão ideológica, que não permitu a Brasília dialogar de maneira mais profunda com as nações mais ricas do planeta. "Trumpista", religioso e antipetista, o novo chanceler Ernesto Fraga Araújo provoca engasgos nessa gente que ainda mantém os retratos do "Che" na parede.   

A pindaíba atual da Venezuela, por si só, já deveria justificar uma mudança radical nos rumos da nossa política externa, mas o que se pretende é mais. Bem mais. Inserir o Brasil, definitivamente, entre os países com expectativa do amanhã ser melhor do que o hoje. 

E para isso, Trump é muito mais importante que Maduro.

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