Segundo a polícia, o grupo é suspeito de ligação com Diana, presa em flagrante em Ipanema Foto: Arquivo pessoal
Com dificuldades em seu relacionamento amoroso, X., administradora, empresária e moradora de Ipanema, na Zona Sul do Rio, de 28 anos, procurou um site que oferecia “trabalhos espirituais”.
Pela página, Samantha Lhuba Vuletic Gaichi, que se identifica como Mãe Sofia, e Marcelo Vacite, o Pai Luiz, “diagnosticaram” que tinha sido feito um “trabalho” contra a moça. Seria necessário, então, fazer uma “limpeza”, serviço oferecido pela dupla por R$ 14 mil.
Após inúmeros pedidos por mais dinheiro e até exigência de compras de alguns itens, a vítima teve um prejuízo total de quase R$ 328 mil.
Segundo as investigações, Samantha e Marcelo fazem parte de uma quadrilha especializada em aplicar o chamado “engodo espiritual” com a prática de extorsão e estelionato.
Logo que recebeu o orçamento inicial pela “limpeza”, X., embora surpresa com o valor, decidiu realizar uma transferência bancária em nome da dupla, já que tinha ficado preocupada com as informações que recebera.
No entanto, a partir de então, Samantha e Marcelo passaram a exigir novos depósitos de modo a não deixarem o “trabalho” voltar e fazerem a “limpeza” perdurar.
Por vezes, as cobranças eram tão incisivas que a jovem, sem condições de arcar com as transações à vista, chegou a realizar, no cartão de crédito, compras de celulares, roupas e artigos de luxos, para serem entregues na residência deles, em um condomínio de alto padrão de Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo. O prejuízo total foi de R$ 327.805,83.
De acordo com investigações das polícias civis de São Paulo e do Rio, Samantha e Marcelo fazem parte de uma organização criminosa.
Ao menos dez pessoas, que atuam virtual ou presencialmente, vêm sendo investigadas por esses crimes.
No inquérito que apura os golpes praticados contra a administradora e empresária, foram indiciados pela 13ª DP (Ipanema), o casal e outras cinco pessoas: Tabata Stanesco, Tiago Nicolitch Petrovich, Tiago Marcicano Elias, Rafael Marcicano Elias e Marcelo Marcicano Elias.
Os dois primeiros forneceram suas contas para receberem os valores repassados pela mulher e os três últimos ficavam responsáveis por fazer as cobranças.
Na última delas, um bilhete em tom ameaçador chegou a ser deixado no endereço onde moravam a mãe e o padrasto da vítima.
Segundo a polícia, o grupo é suspeito de ligação com Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, de 37 anos, presa em flagrante no último dia 1º de abril, na Rua Joana Angélica, em Ipanema.
A mulher foi indiciada por extorquir dinheiro de uma dona de casa de 24 anos.
De acordo com a investigação, Diana atraiu a vítima com a promessa de uma consulta gratuita em seu escritório.
Durante o atendimento, foi cobrada a quantia de R$ 4,3 mil com o pretexto da realização de uma “cirurgia espiritual” para desfazer o “ritual macabro” que teria sido praticado contra a mulher. Como a quantia não foi paga, Diana passou a ameaçar a vítima.
— Os inquéritos mostram que esses criminosos, com promessas de reatar relacionamentos, oferecer promoções em empregos e até desfazer maldições espirituais, exigem dinheiro e chegam a ameaçar as vítimas. Impressiona a frieza como as ludibriam para alcançar vantagens econômicas, demonstrando ganância e explorando crenças religiosas. Nossa orientação é no sentido de que todos fiquem atentos a essas abordagens e evitem se deslocar para endereços de desconhecidos, procurando referências seguras e não se deixando levar por postagens em redes sociais — diz o delegado Felipe Santoro, titular da 13ª DP.
Ameaça
Da mesma família de Diana, Doroty Stanesco, conhecida como Mãe Cecília, também é investigada por extorquir dinheiro de uma empregada doméstica em Botafogo, na Zona Sul.
A mulher contou, na 14ª DP (Leblon), que, ao chegar no consultório onde a suposta vidente oferece serviços de “tarô, búzios e curas”, foi constrangida, mediante ameaça e restrição de liberdade, a fazer uma transferência de R$ 1 mil para poder ir embora do local sem ser morta por “espíritos ruins” que estavam em seu corpo.
Procurados pelo EXTRA, nenhum dos citados na reportagem retornou os contatos.