Procura por atendimento psicológico cresceu durante a pandemia - FREEPIK
Desde que a pandemia se instalou no Brasil, uma série de estudos e pesquisas tem mostrado o impacto dessa realidade na saúde mental dos brasileiros. Nestes quase dois anos do primeiro infectado no país, o início de uma nova onda de Covid-19 causada pela variante Ômicron trouxe novamente à tona medo, insegurança e incerteza sobre o futuro.
Na última semana, o Brasil voltou a registrar recordes diários de novos casos da doença, quebrando picos consecutivos com mais de 200 mil diagnósticos positivos por dia. O cenário exigiu a retomada de algumas restrições pelos estados e culminou no cancelamento do Carnaval, além da suspensão da temporada de cruzeiros.
Na esfera pessoal, viagens e planos foram novamente adiados ou cancelados. A infectologista Ingrid Cotta, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, destaca que no consultório as queixas sobre o comprometimento psicológico têm aparecido de forma constante.
"Eu faço muita teleconsulta, e temos visto pacientes que são bastante comprometidos do ponto de vista de saúde mental, já passaram pela Covid na semana passada, mas estão ligando porque não sabem como lidar com esta nova onda [da doença], principalmente no trabalho", relata.
Além disso, a médica ressalta a ausência de políticas públicas para mitigar os efeitos psicológicos da pandemia na população.
"É preciso reconhecer a presença do comprometimento da saúde mental e propor políticas de saúde públicas para abordar essa questão e não negligenciar [o problema], porque as redes sociais tendem a nos dizer que está tudo ótimo", afirma.
A chegada de 2022 trouxe a esperança de que a vida poderia voltar ao normal depois da Covid-19. Mas, com a Ômicron varrendo o mundo e com a desigualdade no acesso às vacinas, a OMS (Organização Mundial da Saúde) acredita que a pandemia está longe de acabar.
Para lidar com a frustração e a desesperança desta nova fase, a psicóloga Marilene Kehdi chama a atenção para a importância de procurar apoio emocional e ajuda especializada.
“Se a pessoa não estiver sabendo lidar com as emoções que estão surgindo ou que estão se acentuando, é importante procurar ajuda psicológica. Pessoas de todas as idades tiveram a saúde mental afetada em maior ou menor grau durante esse período e, quanto antes se dá atenção para isso, melhor para a vida num todo”, afirma.
Segundo a especialista, houve um aumento na procura por atendimento psicológico online durante a pandemia, seja pela piora de transtornos mentais já existentes, como ansiedade e síndrome do pânico, seja pelo surgimento de sintomas depressivos.
“Conforme a pandemia vai se perpetuando, aumenta o nível de estresse, de medo, de ansiedade e surgem ainda mais incertezas. A questão do isolamento social teve um impacto muito grande, eu diria até que causou traumas na vida de muitas pessoas. Existe a preocupação de 'será que eu vou conseguir suportar isso?'. O ser humano não foi feito para viver isolado”, enfatiza.
Para lidar com as emoções no dia a dia, a psicóloga recomenda respirar profundamente várias vezes, manter uma rotina organizada para que os níveis de estresse sejam menores e fazer caminhadas em locais onde seja possível estar em contato com a natureza.
“É importante pedir ajuda sempre que sentir necessidade, não ter vergonha e procurar desabafar com pessoas de confiança. A saúde mental reverbera em todos os aspectos, na saúde física, nos relacionamentos, na forma de produzir profissionalmente, então é preciso respeitar os limites pessoais”, diz.
Nos casos de distúrbios alimentares e do sono, é necessário buscar ajuda médica especializada.